"Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar" (Darcy Ribeiro)
Tenho
lido, visto e ouvido muita coisa ultimamente dentro de uma busca de
entender o processo de construção de nossa
identidade, seja como pessoa seja como país. O vídeo do Fernando
Meireles, que reproduzo aqui, é um exemplo disto.
Pelo
que observei, a maioria das pessoas acredita que a construção
de nossa identidade implica numa busca para dentro de nós mesmos,
num processo de auto-conhecimento, de um certo
isolamento.
Será?
Num belo texto, Luiz Eduardo Soares aponta em outra direção. Para ele, "identidade é uma palavra enigmática: por um lado
significa a originalidade de alguém, a singularidade que torna cada pessoa
incomparável e única; por outro lado, adquire o sentido oposto ao designar a
semelhança que aproxima duas pessoas". A busca dolorosa de um adolescente
por sua identidade, do que o distingue dos seus pais e o torna um ser humano
integral é o exemplo que todos nós vivenciamos do primeiro significado da
palavra. A nossa eventual identificação com as idéias e ações de Gandhi, Chico
Buarque ou Jesus Cristo é um exemplo do segundo.
Mas
como Luiz Eduardo aponta, mesmo nossa originalidade, ou as características que
nos tornam únicos, só fazem sentido diante do outro: "É a generosidade do
olhar do outro que nos faz únicos... Nós nada somos e valemos nada se não
contarmos com o olhar alheio acolhedor, se não formos vistos e percebidos pelo
outro". Daí que a construção da identidade de uma pessoa é necessariamente
um processo social, interativo, coletivo. Não há identidade no que Luiz Eduardo
chama de homem-ilha ou numa mulher-ilha, não há
identidade desvinculada de relações humanas que lhe dão sentido e valor.
Todo
este papo para dizer que se a construção da nossa identidade se faz na relação
com outras pessoas, é claro que quanto mais interessantes e instigantes forem
estas pessoas com quem interagimos, melhores e mais interessante poderemos ser.
Isto vale para nós, indivíduos, e vale para nós enquanto país. Isto não deve
nos levar a rejeitar as pessoas "menos interessantes", a construir
relações elitistas mas, ao contrário, deve nos fazer valorizar a busca de relações mais
intensas e verdadeiras com pessoas que nos agreguem coisas novas. Devemos compreender que a diversidade nas relações nos permite ser pessoas mais interessantes e complexas.
Como nos lembra Darcy Ribeiro, uma das grandes vantagens comparativas do Brasil, no século XXI é sermos
Podemos olhar para esta crise que o país está vivendo e nos resignar. Dizer que "foi sempre assim", "que estes políticos são todos iguais"... Ou podemos reconhecer que sempre foi assim e que nossos políticos são igualmente medíocres e nos indignar. Buscar outros caminhos. Ao invés de ficar esperando um "salvador da pátria" podemos, cada um de nós, identificar onde pode contribuir e tentar fazer a sua parte. Porque afinal, como diria meu avô, quem espera nunca alcança..."um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si... Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros...
Por isso mesmo, o Brasil sempre foi, ainda é, um moinho de gastar gentes.Construímo-nos queimando milhões de índios. Depois, queimamos milhões de negros. Atualmente, estamos queimando, desgastando milhões de mestiços brasileiros, na produção não do que eles consomem, mas do que dá lucro às classes empresariais.
Dizem, também, que nosso território é pobre - uma balela. Repetem, incansáveis, que nossa sociedade tradicional era muito atrasada - outra balela. Produzimos, no período colonial, muito mais riqueza de exportação que a América do Norte e edificamos cidades majestosas corno o Rio, a Bahia, Recife, Olinda, Ouro Preto, que eles jamais conheceram. Nosso povo preservará, depois dessa drástica cirurgia, a vitalidade indispensável para sair do atraso ou estará condenado a afundar cada vez mais no subdesenvolvimento? Quem está interessado em que o Brasil seja capado e esterilizado? Serão brasileiros?
Vídeo IDENTIDADE, de Fernando Meireles
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