segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

IDH: o Brasil está perdendo o bonde da história


"Redistribuição de renda não é com geladeiras e fogões, mas via saúde, educação, ciência, tecnologia, produtividade e competitividade" Eliane Catanhede


Os jornais deram ampla divulgação a divulgação do Índice de Desenvolvimento Humano de 2014. O IDH é medido a partir de quatro indicadores: esperança de vida ao nascer; expectativa de anos de estudo; média de anos de estudo da população; e renda nacional bruta per capita (toda a renda do país dividida pelo número total da população). São indicadores de longo prazo, que não se alteram muito de um ano para outro, mas é um indicador mais interessante que o PIB, que só mede a riqueza de um país, sem levar em conta indicadores sociais como educação e saúde (considerados pelos IDH).




Embora seja o sétimo maior PIB do planeta, no ranking do IDH estamos agora no 75o lugar, logo atrás do Sri Lanka. O governo destacou o fato que nosso IDH melhorou de 0,752 em 2014 para 0,755 (quanto mais próximo de 1, melhor). Já quem quer criticar o governo chama a atenção para o fato de termos caído uma posição e estarmos agora na 75a posição. 

Quem tem razão?

Acho que nenhuma das duas posições nos ajuda a avançar. Resolvi consultar os dados oficiais (veja aqui) e fazer uma comparação do Brasil com os BRICS (Rússia, China, Índia e África do Sul), o México e os países da América do Sul (Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela, Peru, Equador, Colômbia, Paraguai, Bolívia). 


A primeira constatação é que desde 1990 TODOS OS PAÍSES melhoraram significativamente seu IDH. O Brasil passou de 0,608 em 1990 para 0,755 em 2014, mas a Argentina, o Uruguai, o Chile, a Russia, a China, a Venezuela, o México, o Peru, o Equador e a Colômbia tiveram uma melhora do IDH mais significativa que a melhora do Brasil. Quem não avançou mais que o Brasil foram o Paraguai, a África do Sul e a Índia, mas seus IDH melhoraram também. 

Em 2000, os seis países que possuíam o melhor IDH eram, pela ordem, a Argentina (0,762), o Chile (0,752), o Uruguai (0,742), a Rússia (0,729), o México (0,699) e o Brasil (0,683). Em 2014, o Brasil caiu uma posição, ficando em sétimo lugar. 

Afirmar, como faz o governo, que "nosso IDH melhorou" é uma falácia. O nosso IDH e de TODOS os países melhorou no período entre 2000 e 2014. Mesmo que não se faça muito esforço o IDH de cada país tende a melhorar a cada ano. O que precisamos investigar é se nossa melhora é MAIOR que esta melhora por inércia do IDH. E se formos analisar os números as notícias não são boas. A despeito da melhora do indicador de desenvolvimento humano, o Brasil está PERDENDO POSIÇÕES no ranking do IDH. Nossa melhora é vegetativa. Todos os outros países, mesmo os que não praticam nenhum tipo de política de distribuição de renda, estão melhorando tanto ou mais do que nós. 

É como se nos contentássemos com o fato de que nosso filho, do ano passado para este ano tivesse crescido. Todas as crianças crescem... O que precisamos investigar é se ela cresceu o que deveria crescer, se cresceu menos que o normal ou mais do que o crescimento natural de uma criança.

Mais importante ainda é identificarmos claramente em quais pontos precisamos avançar. No caso do IDH a maior deficiência do Brasil é no quesito educação. Avançamos muito pouco e o que é pior, avançamos MUITO MENOS que os outros países. Melhoramos na educação mas os outros melhoraram muito mais que nós e o saldo final é altamente negativo para o Brasil. É onde estamos pior no IDH. Ou encaramos de frente o desafio de fazermos da educação de qualidade nossa prioridade número um ou continuaremos a patinar sem sair do lugar e vamos perder o bonde da história.  



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