sábado, 27 de fevereiro de 2016

Gigante dormindo em berço esplêndido com esta conversa mole pra boi dormir


"Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes".  
(Albert Einstein)


Conheci Paulo Montenegro quando tinha 15 anos de idade. Dois de seus filhos eram meus colegas no colégio São Vicente de Paulo e em um time de pelada que fez história nos campos do Aterro do Flamengo.... Foi um breve contato, mas o suficiente para eu ter uma profunda admiração que ultrapassa em muito nossa identidade de torcermos pelo Fluminense. O Dr Paulo era uma pessoa inteligente, doce e generosa e por onde passou deixou admiradores e inspirou pessoas. Seu trabalho e de seus filhos transformou o IBOPE numa referência tão forte que virou um verbete no dicionário. Dar IBOPE é hoje uma expressão que todos conhecem...

Para perpetuar este legado sua família criou o Instituto Paulo Montenegro, uma organização sem fins lucrativos cujo "foco inicial de atuação foi a Educação, entendida como essencial para a construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida". Uma das pesquisas realizadas pelo Instituto é a que analisa o "Analfabetismo no Mundo do Trabalho”. A pesquisa foi feita em 2009, 2011 e em 2015. 

Nesta última, cujos resultados acabaram de ser divulgados (veja a reportagem aqui), constata-se o mesmo diagnóstico das pesquisas anteriores: 1 em cada quatro brasileiros é analfabeto funcional. Apenas 8% dos pesquisados mostraram domínio e chegaram ao nível máximo do teste, considerados “proficientes” em português e matemática.

Mas quais são e o que significam cada um destes níveis? Segundo a metodologia do Instituto Paulo Montenegro os níveis de alfabetismo funcional são:

  • Analfabeto - Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.);
  • Rudimentar - Corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (como um anúncio ou pequena carta), ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica;
  • Básico - As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, leem números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou relações; e
  • Pleno - Classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle, envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de dupla entrada, mapas e gráficos. ​​​​​​​​​​​​​​​​​

Segundo a pesquisa, 27% dos brasileiros são analfabetos funcionais; 42% estão no nível rudimentar, 23% no nível básico e apenas 8% dos brasileiros encontram-se no nível pleno ou proficiente.

18%
Para a Ana Lucia Lima, diretora executiva do Instituto, o mais surpreendente é que “18% das pessoas com cargos mais altos na administração pública têm alfabetização em nível pleno. É pouco, pensando que são pessoas em cargo de referência e tomadores de decisão e que estão planejando o país de amanhã.”

Para sair da crise precisamos fazer diferente
Muita gente se mostra surpresa com a crise que vivemos. Olhando estes dados não devíamos nos surpreender. Estamos colhendo o que plantamos ao longo dos anos.

Claro que avançamos. Tivemos um governo que garantiu a volta à democracia; um outro que acabou com a inflação e introduziu uma moeda forte, e um terceiro que colocou milhões de pessoas no mercado consumidor. Mas a sensação é de que avançamos muito pouco...

Por quê?


Porque não se constrói democracia, moeda forte e distribuição de renda, de forma efetiva e sustentável, com geladeiras e automóveis, mas sim com educação.

Sempre priorizamos o imediato, o conjuntural, o que rende mais votos. E esquecemos de cuidar do que, de fato, pode nos colocar no século XXI com justiça social: a educação para todos e de qualidade. 

Sempre trocamos o estratégico pelo populismo. O que dá trabalho, mas traz resultados, pelo que é mais "fácil". Estamos sempre à espera do "salvador da pátria", do "caçador de marajás", das "almas vivas mais honestas que existem e que enfrentam as elites"... E aí, com as dificuldades que continuamos a ter em educação, quando estes "heróis" chegam no poder são cooptados e continuam a jogar o mesmo jogo.

Precisamos buscar um outro caminho. Sem gurus. Sem delegação de responsabilidades. Sem paternalismos. O Brasil precisa deixar de ser o país do futuro e dos sonhos que não se realizam para se transformar no país do presente e dos sonhos realizados. Da realidade. E isto só vai acontecer quando nos convencermos que a educação deveria ser a prioridade número um do país. Não nos discursos, mas na prática. 

Desenvolvimento econômico, social e humano não se faz com paternalismo, mas com educação, ciência e tecnologia. Nosso foco têm sido o de incorporar mais consumidores ao mercado, quando deveria ser o de incluir mais cidadãos à sociedade.

Enquanto continuarmos por este caminho onde estamos vamos colher o que estamos colhendo: crise, desemprego e falta de competitividade. Não existe mágica. Precisamos de um outro caminho que coloque a educação no centro não apenas de nossas pre-ocupações, mas como foco principal de nossas ações. Enquanto não fizermos isto, este papo de "Pátria Educadora" continuará sendo conversa pra boi dormir e para manter o gigante em berço esplêndido...


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A Lava Jato é uma inovação disruptiva que pode colocar o Brasil no século XXI

Disruptive innovation, a term of art coined by Clayton Christensen, describes a process by which a product or service takes root initially in simple applications at the bottom of a market and then relentlessly moves up market, eventually displacing established competitors. - See more at: http://www.claytonchristensen.com/key-concepts/#sthash.ZcMFECO9.dpuf
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"A disruptive innovation is an innovation that creates a new market and value network and eventually disrupts an existing market and value network, displacing established market leaders and alliances" (Clayton Christensen).


A inovação disruptiva não é uma inovação radical. Uma inovação radical traz um produto (ou serviço) totalmente novo, que não existia antes e cria um novo mercado. A internet foi uma inovação radical. O inovação disruptiva é uma inovação que dá acesso a um produto/serviço a uma população que antes não tinha acesso àquele produto ou serviço, seja porque ele era caro seja porque não estava ao alcance das mãos. Os computadores pessoais, por exemplo, não foram uma inovação radical. Os computadores já existiam (os mainframes), mas permitiram que muito mais pessoas pudessem usufruir desta tecnologia.

A justiça, no Brasil, sempre foi extremamente seletiva. Só iam parar na cadeia os pobres e aqueles que não têm condição de pagar excelentes advogados. Mesmo quando os ricos e poderosos eram culpados, seus advogados arrumavam um jeitinho dentro da lei para protelar a prisão até que o processo fosse arquivado. O Brasil sempre foi o paraíso dos corruptos.



A lava jato está mudando isto. Pela primeira vez em nossa história, empreiteiros, latifundiários, banqueiros e políticos estão vendo o sol nascer quadrado. A elite econômica e política, que sempre esteve fora do "mercado prisional" agora tem acesso a este "mercado". Trata-se, portanto, de uma inovação disruptiva...

Como toda inovação deste tipo ela provoca reações. Como nos lembra o escritor Guilherme Fiúza (clique aqui para ler a íntegra):

"O Brasil continua afogado no conto de fadas do oprimido – e, agora que Lula está no centro das investigações, a temperatura vai subir. Do já famoso e vexaminoso “manifesto de juristas” montado pelos advogados da Odebrecht, que comparava Moro aos trogloditas da ditadura, ao choro de petistas e seus artistas de aluguel contra a “criminalização” do filho do Brasil, assiste-se a uma rajada de tiros n’água. O estoque de clichês populistas não acaba – o que pode acabar é a proverbial paciência da opinião pública para engoli-los".
O que a elite econômica e política não contava é com a inteligência e astúcia da equipe que está à frente da operação Lava Jato. Nada foi feito ao arrepio da lei. Agem com sobriedade de forma a não permitir que as suas decisões sejam contestadas pelos tribunais superiores. Para desespero dos magnânimos advogados, antes acostumados a expedientes e artifícios para procrastinar as decisões, a Lava Jato está fazendo a justiça brasileira bater recorde de celeridade, sempre respeitando o amplo direito de defesa dos réus

A rapidez no julgamento é importante, afinal, como dizia Ruy Barbosa,"justiça lenta não é justiça", mas mais importante do que a celeridade dos processos é a competência com a qual eles estão sendo conduzidos. Ao invés de um ataque frontal, a estratégia da Lava Jato foi de uma desconstrução lenta e segura dos principais líderes e, em especial, do Capo di tutti capi, que é a expressão utilizada para designar "o chefe de todos os chefes" da máfia (ver definição aqui). A popularidade do "chefe de todos os chefes" encontra-se hoje tão baixa quanto a do partido que ele dirige e só assim a Lava Jato poderia chegar nele. Se começasse pelos líderes a operação teria sido abortada. Ao ir, como diria meu avô, "comendo pelas beiradas", a Lava Jato pode ir mapeando toda a rede que foi montada para se realizar o que o próprio Procurador Geral da República batizou de "o maior escândalo de corrupção do país".

O Brasil sempre foi, historicamente, um país onde as leis só se aplicavam aos pobres. Este é um dos motivos de nosso atraso econômico, político e social. Os países que se desenvolveram foram países onde as leis, de fato, eram iguais para todos. A Lava Jato pode ser a inovação que precisamos para colocar o Brasil no século XXI. Ela é um exemplo do Brasil competente e sério, que pode dar certo. Mas precisamos estar atentos. Os incomodados com a Lava Jato não vão aceitar que ela faça seu trabalho até o fim. Como nos lembra Fiúza,

"...esse pedaço de Brasil sério e raro não está fazendo nada além de trabalhar direito, sem partidarizações ou jogos de influências ocultas. ...(mas) agora está sendo caçado a céu aberto como peru em véspera de Natal. Claro que os caçadores são todos bonzinhos, sofridos e vítimas do peru ao qual tentam degolar. É a especialidade da casa. Você ainda vai ver muitas “reportagens” plantadas por essa elite cultural parasitária acusando a Lava Jato e Sergio Moro de arbitrariedades, condutas abusivas e caça às bruxas. O choro é livre"....
 Cabe a nós não deixar que isto aconteça, pois como nos disse Martin Luther King
"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons".

Não vamos nos silenciar. Defender a Lava Jato é lutar para viabilizar um futuro para o Brasil. Ainda teremos uma longa caminhada até colocarmos nosso país no rumo da sociedade do conhecimento. A Lava Jato não vai resolver todos nossos problemas, longe disso, mas como diria Lao Tsé, uma longa caminhada começa sempre com o primeiro passo. Vamos dá-lo, sem medos ou recuos.



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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A crise de governança e a revolução do conhecimento


"O melhor negócio do mundo é uma companhia de petróleo bem administrada e o segundo melhor é uma companhia de petróleo mal administrada" 


Foi-se o tempo onde Rockfeller era o cara mais rico do mundo e o que ele falava era um fato. O século onde as maiores empresas do mundo eram empresas de petróleo acabou. Pela primeira vez na história da humanidade as quatro maiores empresas do mundo são empresas que não "fabricam" nenhum produto. Segundo dados compilados pela Bloomberg, as maiores empresas do mundo em janeiro de 2016 são Alphabet (Google), Apple, Microsoft e Facebook (veja notícia aqui). Só em quinto lugar que aparece a Exxon Mobil e em sexto a Berkshire Hathaway do multimilionário Warren Buffet.

O futuro já começou

Demorou, mas cada vez mais pessoas finalmente estão entendendo que não vi vivemos mais no século XX... Apesar dos dados cada dia mais confirmarem que já vivemos na sociedade do conhecimento, muitos dirigentes e profissionais continuam querendo trabalhar como no modelo antigo. Não pode dar certo.

Para preparar os profissionais para viverem neste novo tempo, o CRIE (Centro de Referência em Inteligência Empresarial), lançou em 1998 o MBKM (Master on Business and Knowledge Management), o MBA em Inteligência Empresarial da COPPE/UFRJ. Este ano estamos lançando a 28o turma do curso. Para apresentar o curso estamos convidando a tod@s para a palestra "A crise de governança e a revolução do conhecimento". 

A palestra é gratuita e os interessados devem enviar um email para mbkm@crie.coppe.ufrj.br






NOS VEMOS POR LÁ!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Como lidar com a ansiedade trazida pelo excesso de informações?






Vivemos cada vez mais conectados. Recebemos e acessamos informações 24h por dia, 365 dias por ano. Em plena sociedade do conhecimento, o acesso e o processamento da informação são absolutamente imprescindíveis para se viver no século XXI. As pessoas e empresas sem acesso a estas informações serão alijadas do desenvolvimento econômico e social. Mas será que as pessoas que farão a diferença neste mundo hiper conectado serão as pessoas mais informadas ou as mais criativas? Como lidar com a ansiedade gerada por esta tsunami de informações?

É o que discutiremos nesta quinta, no quiosque do Globo na praia de Copacabana, em frente à rua Miguel Lemos, às 19h.

Nos vemos por lá!



sábado, 13 de fevereiro de 2016

O futuro está escrito nas estrelas?

"O júri é muito simpático, mas é incompetente" (Caetano Veloso)
"O inferno são os outros" (personagem Garcin do texto Huis Clos - Entre quatro paredes, de Jean Paul Sartre

Esta semana a carta aberta aos brasileiros do escritor americano Mark Manson está provocando uma polêmica saudável: afinal estamos nesta situação por culpa nossa ou de outros?

Para Manson, a situação em que nos encontramos é responsabilidade nossa. De cada um de nós, brasileiros. Da nossa cultura, de nossas crenças e de nossa mentalidade. Em resumo, do que entendemos que é "ser brasileiro":
"É a mesma velha história, só muda a década. A democracia não resolveu o problema. Uma moeda forte não resolveu o problema. Tirar milhares de pessoas da pobreza não resolveu o problema. O problema persiste. E persiste porque ele está na mentalidade das pessoas".
Fui pesquisar e encontrei este livro super interessante do professor Stephen Haber, da faculdade de ciências sociais de Stanford. A pesquisa do professor Haber traz um dado que me parece extremamente relevante: no início do século XIX, o PIB per capita do Brasil e dos Estados Unidos (EUA) eram equivalentes, mas um século depois ficamos para trás...


Por quê?

As razões que estudamos em nossos livros de história são várias: enquanto a independência americana abriu as portas para a industrialização americana, a nossa só fez reforçar nossa economia agrária, baseada no latifúndio e com baixa produtividade. O Barão de Mauá, que tentou industrializar o Brasil foi sumariamente boicotado pela elite agrária que mandava no país.

Um dado interessante. Na conquista do oeste americano, o governo de lá baixou uma lei onde quem comprovasse estar trabalhando na terra por cinco anos ganhava o título de propriedade, não importando sua nacionalidade. No Brasil, o governo se declarou o dono de todas as terras e as vendia para quem pagasse mais (ou fosse "amigo" do governo). O resultado destas escolhas distintas? No caso brasileiro, a política governamental promoveu os latifúndios improdutivos que caracterizaram o Brasil por mais de um século, enquanto nos EUA a produção e a riqueza se espalharam pelo país. Desde nossa fundação como nação independente escolhemos o paternalismo do Estado e uma forma de inserção na economia mundial como exportadores de commodities. O mais incrível não foi fazer esta escolha, mas permanecer com ela por mais de 200 anos...

Claro que muitos intelectuais brasileiros tentaram explicar esta situação de outra forma. Criamos, por exemplo, A Teoria de Dependência. Dentro desta visão, da qual fazem parte intelectuais renomados, como Celso Furtado, a razão principal do nosso atraso reside nos países desenvolvidos. Dentro da divisão internacional do trabalho, nos caberia a parte menos nobre e mais braçal (exportador agrícola). Curiosamente, esta escola do pensamento sempre se caracterizou por uma leitura da realidade eminentemente qualitativa, evitando o uso sistemático de dados quantitativos. O estudo do professor Haber traz dados quantitativos que, me parece, contribuem bastante para questionarmos algumas de nossas crenças e valores e a refletir sobre nossas escolhas no passado

Sempre aprendemos, por exemplo, que "somos subdesenvolvidos porque isso interessa aos países do primeiro mundo"; ou "que a culpa é do FMI (Fundo Monetário Internacional)" ou das multinacionais; ou ainda, "que fomos uma colônia de exploração, enquanto que os EUA foram uma colônia de povoamento"... Mas fomos "descobertos" e obtivemos nossa independência quase que ao mesmo tempo que os EUA e até o século XIX éramos tão desenvolvidos quanto eles. Por quê então resolvemos continuar sendo uma "colônia de exploração exportadora de commodities"? E por quê, mais de duzentos anos depois, persistimos nesta escolha?  

Para o instigante texto de Mark Manson, as razões não são só econômicas ou políticas. São culturais. Nós priorizamos nossos interesses pessoais e/ou a família em detrimento de outros membros da sociedade. Em outras culturas os interesses individuais são subordinados aos interesses da coletividade. Exemplo disto foi a forma como cada país estimulou o uso do solo. Nos EUA, quem estivesse produzindo ficava com a terra. No Brasil, o governo era o grande "pai" que estava ali para defender o interesse dos parentes e amigos em primeiro lugar... Como diz a carta aberta, 
"É curioso ver que quando um brasileiro prejudica outro cidadão para beneficiar sua família, ele se acha altruísta. Ele não percebe que altruísmo é abrir mão dos próprios interesses para beneficiar um estranho se for para o bem da sociedade como um todo".
Nem todos concordam com o escritor americano. Sua carta aberta provocou uma reação de muitos jornalistas e escritores brasileiros. Alguns, como este blog, atribuem nosso atraso a fatores externos a nós:
"Sendo a sociedade capitalista moderna global, não pode-se entender a infraestrutura brasileira sem entender a infraestrutura global. Isso coloca o Brasil no grupo dos países cuja competitividade no mercado internacional é limitada, não por incapacidade de seus habitantes de criar ou produzir, mas por condicionamento histórico: nossa infraestrutura não está plenamente desenvolvida, nosso desenvolvimento está atrasado".
Claro que vivemos num mundo cada vez mais interconectado e que estamos sujeitos a "condicionamentos históricos" e que nossa infraestrutura está submetida a "infraestrutura global". Mais ainda, cada um de nós tem uma percepção da realidade diferente da de outras pessoas. Podemos não concordar com a percepção de Mark Manson, mas para rebatê-la deveríamos apresentar dados que justifiquem nossa posição e não repetir generalidades ou verdades que não ajudam a problematizar e resolver nossos problemas. Culpar o "capitalismo internacional" ou "a ganância dos bancos e das multinacionais" pode ser uma bela maneira de culpar os outros (o inferno são os outros...), mas não nos ajuda a a avançar um centímetro...

Em 1968, durante os festivais de música, o Caetano Veloso foi entrevistado logo depois de perder o festival com sua música Alegria, Alegria e falou que os jurados eram "muito simpáticos, mas incompetentes"... Para mim esta frase é um retrato do nosso país. Somos um povo alegre, simpático e criativo, mas somos incompetentes. Não conseguimos transformar nossa criatividade em inovação. Não conseguimos criar e compartilhar valor entre toda a sociedade. Acredito que um dos motivos para isto é esta nossa mania de culpar os outros por nossos problemas. Precisamos aprender a encarar nossos problemas de frente, aprender com eles e construir um caminho novo para nosso futuro. Sem paternalismos e demagogias. Com trabalho, produtividade e o nosso diferencial: a alegria. Quem disse que para valorizar o esforço e o trabalho e sermos competitivos precisamos ser tristes e sorumbáticos? Podemos ser competitivos e alegres. Por que não?

Como nos lembra o escritor americano, 
"O “jeitinho brasileiro” precisa morrer. Essa vaidade, essa mania de dizer que o Brasil sempre foi assim e não tem mais jeito também precisa morrer. E a única forma de acabar com tudo isso é se cada brasileiro decidir matar isso dentro de si mesmo.
Ao contrario de outras revoluções externas que fazem parte da sua história, essa revolução precisa ser interna. Ela precisa ser resultado de uma vontade que invade o seu coração e sua alma".
Nossa alma é grande, diversa, criativa e generosa. Poucos povos conseguiram assimilar diferentes culturas como nós. Somos o resultado da mistura do índio americano, do negro africano e do branco europeu. Criamos o samba, a bossa nova e temos uma cultura rica e um enorme potencial que precisa ser melhor canalizado. Só depende de nós. Vamos parar de culpar os outros. Como nos lembra George Bernard Shaw "As pessoas estão sempre culpando suas circunstâncias pelo que elas são. Eu não acredito em circunstâncias. As pessoas que progridem neste mundo são as pessoas que se levantam e procuram pelas circunstâncias que elas querem, e, se elas não conseguem encontrá-las, elas as fazem".

O futuro não está escrito nas estrelas. 

Vamos construí-lo.

 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Para compreender a nova economia

A economia compreende todas as atividades do país, mas nenhuma atividade do país compreende a economia... (Millor Fernandes)



Muita gente ainda duvida que estamos vivendo numa nova economia. E como não a compreendem preferem negá-la. Mas os dados estão aí para mostrar que estamos vivendo numa nova era: a era do conhecimento.

Em notícia publicada sem muito destaque nos jornais, soubemos que esta semana, pela primeira vez na história da humanidade as quatro maiores empresas do mundo são empresas da "nova economia": Google, Apple, Microsoft e Facebook. Esta última desbancou a Exxon Mobil (empresa de petróleo) e o conglomerado Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffet.

Há dois anos o Crie lançou o curso de pós graduação Lato Sensu em Big Data Estratégico (WIDA) exatamente para capacitar pessoas para atuarem nesta nova economia. O curso foi desenhado para que tomadores de decisão em diversos níveis possam compreender os impactos do ambiente digital em seu negócio e prepará-los para usar os dados digitais para criar valor para suas empresas.






O informativo detalhado do curso está em http://pt.slideshare.net/marcoscavalcanti2/curso-big-data-estratgico-web-intelligence-and-digital-ambience e as pessoas interessadas podem enviar um email para wida@crie.ufrj.br 
O futuro não está escrito nas estrêlas. Venha construí-lo junto conosco.
 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

É carnaval! Tempo de inovação...

 Fantasia é um troço que o cara tira no carnaval (João Bosco)


Tenho uma certa dificuldade em lidar com datas onde um determinado sentimento deve prevalecer. O carnaval é uma delas. Nem sempre estamos felizes, mas é carnaval! Vamos festejar! Por outro lado, estas datas e eventos são parte da nossa cultura, nos ajudam a lidar com nossas frustrações e a nos dar um sentimento de pertencimento a uma coletividade. Sem estes eventos coletivos nos sentiríamos órfãos.

De qualquer forma, o carnaval é uma clara demonstração da criatividade do brasileiro. Uma vez fui com um amigo francês ver o desfile das escolas de samba. Fomos primeira à concentração para ele ver a escola se armando e foi visível sua frustração. O que vimos foi um monte de gente desengonçada, segurando suas alegorias e adereços, numa bagunça incrível. Quando passou a escola na avenida a cara do meu amigo não me sai da cabeça: um deslumbramento! Os olhos arregalados, o sorriso que não saia da cara... Ele ficou maravilhado! "Como é possível esta transformação?", me perguntou. Foi como se tivéssemos saído do caos e da feiura para a harmonia e a beleza. Em questão de minutos.

Outro exemplo de criatividade e inovação é a "Duduzela". Recebi do meu amigo Eduardo Fairban, renomado professor da COPPE/UFRJ este texto explicando sua criação:
 
"Em verdade para chegarmos è duduzela percorremos um grande caminho. Há uns três anos que eu vinha pensando em uma maneira de que as vozes pudessem soar mais fortemente sem utilizar recursos eletrônicos de amplificação. Era importante também que não fosse caro. Produzi um primeiro protótipo com cone de trânsito que emitiu bem, mas a Ignez Perdigão considerou que a emissão seria forte mas que não nos ouviríamos o que levaria a uma grande desafinação geral amplificada. Aí pensei em fazer um retorno com estetoscópio que verifiquei poderia ser comprado por alguma coisa como uns 13 reais. O "retorno" foi aprovado pela Ignez, e aí a Maristela Pessoa, designer, fez um protótipo já com todos os ingredientes que permitissem uma fabricação artesanal em tempo hábil e com robustez que não detonasse a duduzela no primeiro cortejo. Num sábado produzimos, com a ajuda do grande "bricoleur" Junho Francisco e com a participação ativíssima da Branca Americano, 25 megafones que já foram ensaiados pelo Ruy Oliveira no domingo e pela Ignez Perdigão na quinta-feira passada. A estréia foi na praça da General Glicério (apresentação pré-carnaval do Afluente do Céu) e em cortejo de rua no Boitatá domingo (ontem). Essa é a história da duduzela (junta dudu e maristela) , nome que eu não queria, mas que, como todo apelido, acaba pegando quando o apelidado reage".




Ainda não usei, mas os amigos que a usaram garantem que ela é um sucesso! E para os que consideram que esta é uma "inovação menor" lembro a história do bambolê. Quando o inventor do bambolê apresentou sua ideia ninguém o levou a sério e ele acabou ficando milionário com sua invenção...
 
Bom carnaval a tod@s! Com ou sem duduzela...