quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Inovação: um passo adiante e dois atrás?


O conhecimento é hoje o principal fator de produção. Segundo o Institute for the Future, na década de 90 cerca de 30% das exportações dos Estados Unidos (EUA) estavam relacionadas ao conhecimento enquanto os 70% restantes vinham dos outros fatores (terra, capital, trabalho e matéria prima). O Brasil optou por um modelo de desenvolvimento baseado em terra, matéria prima e trabalho. Fazia sentido no século XX, porque estes fatores sempre foram baratos e acessíveis para nós e eles eram relevantes e decisivos para se criar valor na sociedade industrial.. Não faz mais sentido no século XXI, na sociedade do conhecimento.
O resultado desta escolha é um dos fatores da nossa crise. Estamos perdendo capacidade competitiva porque nossos produtos e serviços têm um baixíssimo componente de tecnologia, conhecimento e inovação. Prova disso é que embora estejamos publicando muito artigos, o peso da economia brasileira no mundo está caindo. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), há trinta anos participávamos com 2,7% da produção industrial do mundo, e hoje, passamos a 1,8%. De acordo com o mesmo instituto, de 2003 a 2009, nossa produtividade caiu 1,7%, enquanto a da China cresceu 4,5% e a dos EUA 3,8%.

Por tudo isto o novo Marco Legal da Inovação, sancionado pela Presidente DIlma, foi saudado pela comunidade de inovação brasileira. Como salientado por Fernando Peregrino, neste excelente artigo, a lei foi aprovada por unanimidade no Congresso, e construída por mais de 70 entidades do setor. Apesar disso a presidente resolveu fazer cinco vetos que reduziram seu alcance.
Como salienta o Fernando, "Esses vetos atingiram poderosos mecanismos de incentivo ao salto visado, como o acesso de jovens de universidades privadas à bolsa para inovação, as micro empresas tecnológicas de usufruírem das compras governamentais, os profissionais e médicos residentes dos hospitais universitários de receberem bolsas de pesquisa, ao direito das fundações de apoio à justa remuneração pelo trabalho que prestam,e, por fim, em tempos do zika, a autonomia gerencial de entidades como a Fiocruz que fazem a pesquisa e a transforma em vacinas para doenças que acometem a nossa população. A luta para corrigir esses vetos em tempo será um exercício de negociação no qual todos compromissados com o novo Marco Legal devem participar. Sobretudo o Governo".
Por que fazer vetos num projeto que conseguiu uma rara unanimidade na sociedade brasileira? Triste constatar que num assunto crítico para a construção de nosso futuro, a inovação, estamos dando um passo adiante e dois passos atrás... Ainda dá tempo. Presidente Dilma, volte atrás em seus vetos e promulgue a lei como ela foi aprovada pelo Congresso.

O Brasil do século XXI precisa disso.

sábado, 23 de janeiro de 2016

A felicidade se aprende?

As ideias geniais são óbvias

A lição sabemos de cor. Agora só nos resta aprender 
(Sol de Primavera - Beto Guedes)


Estudei a minha vida inteira no Colégio São Vicente de Paulo, um colégio católico no Rio de Janeiro. Tive a sorte de ter um professor de religião bem atípico, o Padre Dario, com quem tive várias discussões depois da aula, normalmente sobre coisas que eu não concordava sobre o que ele tinha nos ensinado. Uma destas foi sobre a necessidade de se rezar todas as noites. Quase todos meu colegas pediam coisas (passar de ano, ir bem na prova, ganhar um brinquedo...) e eu achava que Deus devia ter mais coisas para fazer do que se ocupar destas mesquinharias... Ele então me sugeriu rezar toda noite, antes de dormir dizendo simplesmente: "papai do céu obrigado pelo dia de hoje". Não era nenhum pedido. Só um agradecimento. O que eu não sabia era que este hábito acabaria me levando a pensar sobre a vida...

De fato, com o tempo, parei de "rezar", mas ficou o hábito de, no escuro, pensar sobre o que tinha feito, o que devia fazer e desejar que as pessoas fossem felizes. De lá pra cá um longo tempo se passou, mas constato que a busca da felicidade continua sendo o grande motor da espécie humana. A humanidade busca ser feliz há bilhões de anos e até hoje não achamos a fórmula mágica para isto. Sem ter como acompanhar a trajetória de cada um dos bilhões de seres ao longo de toda a sua vida, sem ter dados sobre isto, fica muito difícil estudar o comportamento humano e encontrar padrões que nos dessem pistas sobre os mecanismos complexos que nos trazem a felicidade.




Um gigantesco estudo realizado pela Universidade de Harvard (veja o vídeo!) parece que começa a desvendar os mistérios da felicidade e da vida saudável. Durante 75 anos eles acompanharam a vida de 724 pessoas e a conclusão maior deste estudo foi:


"As boas relações mantém-nos mais felizes e saudáveis. Ponto final."

Parece óbvio e é, mas como diz a citação no cabeçalho deste post, as ideias geniais são óbvias. São ideias que quando a gente ouve de alguém a gente diz: "mas isto é óbvio!". Era, mas ninguém tinha dito antes. Estava na cara de todos e ninguém tinha percebido. A genialidade está exatamente em perceber o que todos poderiam ter percebido mas não o fizeram. As ideias complicadas, que ninguém entende, não são geniais...

Além disso, embora todos desejem ser felizes, a maior parte das pessoas ainda associa a felicidade a ter coisas (que elas pedem em suas orações...) e não às relações humanas. Pesquisa recente com jovens que nasceram nos anos 80 e 90 (vejam o vídeo) perguntando quais seriam seus maiores objetivos na vida mostra que 70% deles querem ficar ricos; 50% querem ficar famosos e 30% desejam trabalhar em algo que os satisfaça e os tornem ricos e famosos... Não é a toa, portanto, que as pessoas estejam cada vez mais angustiadas e deprimidas. Os objetivos que elas têm para sua vida não ajudam a torná-las mais felizes.

O que devemos fazer então? Se o que nos fará felizes é termos relações verdadeiras, o que devíamos estar fazendo agora, para construirmos este futuro mais feliz e saudável? O estudo diz que a chave é termos boas relações. A grande questão é como construir estas relações verdadeiras? Onde colocar nosso tempo e energia?

O estudo conduzido por Harvard avançou nesta questão e concluiu que devíamos nos concentrar em três coisas:

  1. Devemos construir sólidas relações sociais (com amigos, família, comunidade). A solidão mata.
    • As pessoas que têm mais relações são mais felizes e vivem mais que as pessoas que não construíram estas relações. Não se trata aqui de ter muitos "contatos" e "conhecidos", mas de relações efetivas, onde há envolvimento físico e emocional. 
  2. Não basta o número de amigos ou termos (ou não) relações estáveis com alguém, mas da qualidade de nossas relações íntimas.
    • Relações estáveis e duradouras, mas conflituosas são muito ruins para a saúde e a felicidade das pessoas
  3. Relações de qualidade protegem nosso corpo (as pessoas são mais saudáveis), mas sobretudo, protegem nosso cérebro
    • Pessoas que mantém relações onde elas sentem que não podem confiar nas outras pessoas são as que tiveram um declínio muito mais acentuado da memória e doenças como Alzheimer.
Relações de qualidade ou ter boas relações não significa que elas são fáceis. Existem discussões e conflitos, mas enquanto sentirem que podem realmente contar um com o outro, estas discussões perdem relevância e ajudam a solidificar a relação. Confiança é um aspecto chave das boas relações. 

Isto tudo, como já disse, parece óbvio. Por que então é tão difícil construirmos estas relações, investindo tempo nisso e por que é tão fácil esquecer e ignorar esta obviedade? 

Porque somos humanos. O que gostaríamos mesmo é uma receita rápida de felicidade. Uma pílula que tomássemos e nos fizesse felizes para sempre... Construir relações verdadeiras é complicado, leva tempo, tem problemas. É difícil lidar com amigos, família, trabalhar, se ocupar com a comunidade à sua volta. Construir boas relações leva tempo, não é sensual, demanda esforço e persistência. Não é um esforço que façamos durante um tempo e depois podemos relaxar e esquecer. É um esforço constante, que dura a vida toda!

O que fazer? Como todo problema complexo, a construção de relações de qualidade é uma questão que não se resolve, demanda atenção constante, precisa ser gerenciada o tempo todo. Parece complicado, mas na verdade é simples e o estudo de Harvard aponta algumas atividade extremamente simples e eficazes:
  • Substituir uma parte do tempo que passamos diante de uma tela (de computador, de televisão, de um celular) por mais tempo em contato com pessoas e a natureza. 
  • Animar relações adormecidas fazendo qualquer coisa em conjunto, mesmo que isto seja um simples passeio à pé, uma viagem ou uma ida ao cinema
  • Falar com pessoas da família que você não vê há anos
  • Não guardar rancores ou raiva dos outros...
Em resumo, o estudo de Harvard mostra que felicidade e vida saudável não se compra na farmácia, não se pede (nem mesmo a Deus...), nem podem ser obtidas decorando-se alguma receita milagrosa. É um processo de construção diária e que envolve o estabelecimento de relações de qualidade. A lição de Harvard está dada. Agora só nos resta aprender.

Se todo dia você reservar alguns minutos para pensar sobre sua vida você encontrará o que você deve fazer para construir sua felicidade. Parecem passos pequenos, mas o estudo de Harvard mostrou que a felicidade é feita de coisas simples. Mesmo que elas durem pouco, estes momentos de felicidade é que farão que a gente viva mais e de forma saudável. Como a citação de Mark Twain feita no vídeo :
Não há tempo. Tão breve é a vida para a perdermos com discussões, desculpas, amarguras, prestações de conta...Só há tempo para amar. Mesmo que isto seja só um instante...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Os incomodados é que mudam

"No princípio era o verbo" 
Abertura do Evangelho Segundo São João

"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante"
Friedricht Nietzsche - Assim falou Zaratustra



Em 2003 resolvi passar o Carnaval em Tiradentes-MG. A ideia era curtir com calma um carnaval de rua numa cidade que é linda. Foi o caos. A cidade é invadida por milhares de pessoas que fazem questão de desfilar com seus possantes equipamentos de som instalados no carro tocando música bate-estaca. Nada de carnaval... Cansados da barulheira no centro da cidade, resolvemos visitar um parque natural, pertinho da cidade. De repente, dois carros invadem a reserva natural (que era proibida para automóveis), param bem no meio e colocam o barulho no volume máximo. Quando finalmente se cansaram e desligaram o som, eu aplaudi e disse: "obrigado, finalmente vamos poder ouvir a natureza"... Na mesma hora as famílias que lá estavam (e não conheciam os caras dos automóveis) me disseram que ali era uma praça pública e "os incomodados que se mudem". Não adiantou nada eu tentar dizer que exatamente porque era um espaço público não dá pra cada um fazer o que quer. Os jovens da bate-estaca se sentiram encorajados e vieram com um cano em minha direção! Achei melhor sair correndo...

"Os incomodados que se mudem"
Esta frase eu não ouvi só em Tiradentes. Ela é parte do senso comum. A maioria das pessoas acha que o espaço público é a casa da mãe Joana onde cada um faz o que quer. Vai demorar algum tempo e muita discussão para mudar esta percepção que é uma das fontes de nosso atraso enquanto país.

Na verdade, esta frase contém dois equívocos. Em primeiro lugar porque a minha liberdade acaba onde começa a do meu semelhante. Se o que faço está incomodando os outros, não são os incomodados que devem ir embora. Precisamos entrar num acordo. Em segundo lugar, porque como diria meu avô: os incomodados é que mudam... 

Todas as transformações que ocorreram e ocorrem no mundo só aconteceram e acontecem porque alguém, ou um grupo de pessoas, se sentiu incomodado. E quis mudar. Os conformados não mudam nada.  Como diria Kerouac, só as pessoas loucas o bastante para acharem que podem mudar o mundo é que conseguem fazê-lo.
"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os encrenqueiros. Os que fogem ao padrão. Aqueles que vêem as coisas de um jeito diferente. Eles não se adaptam às regras, nem respeitam o status quo. Você pode citá-los ou achá-los desagradáveis, glorificá-los ou desprezá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Eles empurram adiante a raça humana. E enquanto alguns os veem como loucos, nós os vemos como gênios. Porque as pessoas que são loucas o bastante para pensarem que podem mudar o mundo são as únicas que realmente podem fazê-lo." Jack Kerouac

No princípio era o verbo (e a imaginação...)
Quando era menino. me lembro de uma conversa que tive com meu avô que mudou minha vida. Eu estava triste porque não tinha um brinquedo que eu queria muito (acho que era um autorama...) e ele me disse: "Deus criou o mundo a partir do nada. Só com sua imaginação. Invente seus brinquedos"! Saí dali correndo para o morro que tinha atrás do prédio que morava em Laranjeiras e junto com meus amigos construíamos casas nas árvores, carrinhos de rolimã e times de botão.

Não foi só a dica do meu avô. Se eu estivesse conformado com a situação eu simplesmente não faria nada. É preciso estar inconformado, incomodado. É preciso ter o caos dentro de si para dar à luz novas ideias. 

Começamos 2016 com um sentimento de pessimismo e desesperança. Mas muitos de nós estão informados. Buscando alternativas. Parece que não temos nada, mas tudo começa do nada. Se não temos nada já temos tudo que precisamos...


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Em 2016, crie!

"Não é no conhecimento, mas sim na criação que está a nossa salvação!" 
Nietzsche, Das Philosophenbunch (theoretiscestudien), S 84



Meu avô sempre me contava a história do prefeito que resolveu fazer uma festa, um ano depois de eleito. No alto do coreto da pracinha, diante da multidão reunida, o alcaide soltou o verbo:
"Há um ano, quando assumi, esta prefeitura estava à beira do precipício. De lá pra cá, demos um passo adiante"...

O país começa 2016 com o desafio de superar uma grave crise econômica, política e social e tudo o que não devíamos fazer é dar um passo adiante... O modelo que escolhemos se esgotou. Precisamos mudar de rumo. Como disse em outro post, resgatando frase da jornalista Eliane Catanhêde, "Redistribuição de renda não é com geladeiras e fogõesmas via saúde, educação, ciência, tecnologia, produtividade e competitividade".

Este novo caminho deve procurar colocar o Brasil no rumo da sociedade do conhecimento. Desde 1998 o CRIE (Centro de Referência em Inteligência Empresarial) promove o MBKM (Master on Business and Knowledge Management), uma pós graduação Lato Sensu em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial. Em março estaremos lançando a 28a turma do curso. As pessoas interessadas podem acessar o informativo do curso clicando na imagem abaixo (ou aqui).




No século XX as organizações eram intensivas em mão de obra, matéria prima e capital. Agora, no século XXI, o fator de produção mais relevante é o conhecimento e nesta nova economia as empresas vão precisar desenvolver novos modelos de negócio e contar com gestores e pessoas capazes de lidar com esta nova realidade. Ao contrário dos MBAs tradicionais, que focam seu conteúdo em temas como finanças, gestão de recursos humanos e matérias primas, o MBKM é voltado para a gestão do conhecimento em todos os seus aspectos, envolvendo a gestão estratégica de pessoas, processos e tecnologias.  

Mais do que formar robôs capazes de replicar teorias, o curso se propõe a desenvolver pessoas capazes de criar e propor soluções inovadoras aos problemas cada vez mais complexos com os quais somos confrontados em nosso dia a dia. 

Vivemos um tempo onde as mudanças não são apenas necessárias. Elas são inevitáveis. Precisamos nos preparar. Como diria o poeta, "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Em 2016, CRIE!

A Soci