domingo, 27 de março de 2016

Valor de mercado do Google ultrapassa U$ 500 bilhões

Vivemos um momento fascinante de mudanças. O Google acaba de ultrapassar os U$ 500 bilhões de dólares como valor de mercado. Neste sábado o The Independent, um dos maiores jornais ingleses, publicou sua última versão impressa. Ele vai continuar apenas com sua versão digital. Neste mês, o WhatsApp atingiu a impressionante marca de 1 bilhão de usuários ativos. E neste primeiro trimestre de 2016, as quatro empresas com maior valor de mercado no mundo passaram a ser a Google, Apple, Microsoft e Facebook. O Facebook ultrapassou a Exxon e se tornou a quarta maior empresa do mundo... 



Poucos ainda duvidam que a era industrial está ficando para trás. Cada vez mais fica claro que para ter sucesso, as organizações – qualquer que seja o setor onde atuem – terão que ter uma estratégia para se incorporar à economia digital, em rede. Mas como podemos criar valor a partir dos dados digitais?

Estamos convencidos que a tecnologia, por si só, não é suficiente. Precisamos de gestores e profissionais capazes de pensar de outra forma, com um visão de mundo mais sistêmica e complexa. 


Pensando em capacitar estas pessoas o Crie lançou o WIDA (Web Intelligence and Digital Ambience). uma Pós Graduação Lato Sensu em Big Data Estratégico.

Na semana que vem estaremos lançando a terceira turma deste curso com uma palestra gratuita: "Negócios conectados geram oportunidades exponenciais: como as redes estão mudando o mundo". A palestra vai acontecer dia 07 de abril, de 12h30 às 14h no centro da cidade do Rio de Janeiro. Se inscreva enviando um email para wida@crie.ufrj.br

Palestra: "Negócios conectados geram oportunidades exponenciais: como as redes estão mudando o mundo"
Dia: 07 de abril (quinta feira), de 12h30 às 14h
Local: Av. Rio Branco 81 / 13o andar - Centro - Rio de Janeiro 


terça-feira, 15 de março de 2016

Os picaretas e a topologia da rede


"A topologia da rede determina o que ela é capaz ou não de fazer" 
 Albert-László Barabási


Para o cientista Albert-László Barasi, o criador e o maior especialista em Ciência das Redes, para transformar uma determinada realidade precisamos alterar a topologia da rede. Um bebê de três meses de idade não consegue andar. Sua estrutura física (ossos, músculos) e mental (conexões e sinapses no cérebro) não estão desenvolvidas o suficiente. A topologia da sua rede não permite que ele ande. Einstein disse a mesma coisa de outra forma ao afirmar que seria uma insanidade continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

Queremos mudar o Brasil, mas não nos dispomos a mudar a estrutura política que nos governa. Não vai dar certo. Vamos trocar seis por meia dúzia. Nosso políticos não são corruptos por um "defeito de fabricação". A estrutura de poder que construímos, a topologia desta rede, favorece a que uma boa parte, provavelmente a maioria, se torne um criminoso.

Hoje, o Ministro Jaques Wagner (ex-governador da Bahia) acusa o Juiz Sérgio Moro de criminalizar a política. 

Será?

Quem criminalizou a política não foi o juiz Moro, mas todos os que usaram seus cargos públicos para roubar; quem criminalizou a política foram todos os que ocuparam o Estado para usá-lo em benefício próprio ou de um partido. Ao contrário do que disse o Ministro, a Operação Lava Jato se tornou a esperança de construirmos uma nova forma de se fazer política. A condenação e a prisão de todos os envolvidos é só a pré condição para esta transformação. Precisamos ir além. Precisamos mudar a topologia desta rede...


A "ágora", agora, é virtual


Ágora (ἀγορά; "assembleia", "lugar de reunião", derivada de ἀγείρω, "reunir") é um termo grego que significa a reunião de qualquer natureza, geralmente empregada por Homero como uma reunião geral de pessoas. A ágora parece ter sido uma parte essencial da constituição da democracia na Grécia.

A democracia, nas suas origens, não tinha partidos nem "representantes do povo". Os cidadãos gregos simplesmente se reuniam na Ágora para tomar suas decisões. Cada cidadão tinha um voto e representava a si mesmo...

Na época não era um sistema tão democrático assim. As mulheres e as pessoas de nível social mais baixo eram simplesmente excluídas do sistema. De qualquer forma, a ideia de que todo cidadão tinha direitos e deveres iguais fundou a base de nossa democracia. Com o tempo e o crescimento das cidades, esta ideia de reunir todo mundo na praça se tornou inviável e começamos a criar os "representantes do povo" e os partidos. Não era assim nas origens da democracia.

A internet e as redes sociais são a Ágora contemporânea. Elas podem se tornar o espaço onde todo cidadão pode se exprimir e votar, sem necessidade de escolher "representantes". Com isto estaremos aumentando a participação popular e fazendo cada um voltar a se sentir co responsável pelos destinos do país. 

Sei bem que este é um longo debate, mas estou convencido que caminhamos no sentido de aprofundarmos a democracia através da participação direta do cidadão. Os projetos de lei de iniciativa popular (como foi o caso da Ficha Limpa, lembram?) o um exemplo de para onde deveríamos caminhar. Com esta nova topologia de rede talvez a gente possa sonhar em ter um país onde a maioria dos políticos deixem de ser picaretas e bandidos. 

segunda-feira, 14 de março de 2016

E agora?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?








Acredito que teremos tempos tensos pela frente, principalmente se interpretarmos equivocadamente o recado das ruas. O dia 13 de março de 2016 foi um dia histórico. Foi a maior manifestação deste século no Brasil. Num mesmo dia, em mais de 250 cidades e durante horas, milhões de pessoas foram às ruas se manifestar em defesa da Lava Jato e contra lula, Dilma e o PT. Nunca antes tivemos manifestações em tantas cidades fora dos maiores centros urbanos.

Alguns "acusaram" a manifestação de ter "pouco pobre". Imagens foram pinçadas para se tentar caracterizar a manifestação de ontem como "coxinha" ou "de direita". Duas perguntas: 1) Qual foi a composição social da Passeata dos 100 mil (em 1968), das Diretas Já (1984) e do impeachment do Collor (em 1992)? Exatamente a mesma das manifestações de ontem: a classe média revoltada. 2) Em que grande manifestação os pobres brasileiros foram às ruas? Infelizmente nenhuma. No dia em que eles se manifestarem o Brasil muda, de fato... 


Os milhões que foram às ruas ontem não têm uma determinada posição política à esquerda ou à direita. Ao contrário das grandes manifestações do século passado, as atuais manifestações não têm UM palanque e "líderes". As pessoas não foram atrás de UM trio elétrico ou ficaram aplaudindo um líder debaixo de um palanque ou de uma faixa. Cada um levou o seu cartaz e o seu trio elétrico...
O que, mais uma vez, ficou claro ontem é que os partidos e organizações sindicais que temos não representam mais a complexidade e diversidade da sociedade brasileira deste início de século XXI. O muro de Berlim não existe mais. Os muros agora são outros. A realidade mudou. Neste novo mundo as redes sociais ganham, a cada dia, espaço sobre os meios tradicionais de comunicação. Como nos lembra Silvio Meira, "há quem queira que redes sociais online não tenham poder nenhum; só que os fatos estão dizendo o contrário. Noutro extremo, há quem queira que as redes tenham todo poder: e os fatos, de novo, provam o contrário. Sem as ruas, sem gente nelas, sem a presença física de tanta gente mobilizada, saindo de casa –nem que fosse só para sair…- não seria um tuitaço que mudaria o Brasil..."

O debate e a discussão nas redes (mesmo que ainda seja limitado e pouco profundo) quando combinado com a ação conjunta nas ruas, como aconteceu ontem, tem um poder de transformação enorme. Estamos começando a descobrir isto. Quanto mais rápido aprendermos a fazer esta articulação e combinação, mais rápido encontraremos os caminhos para nos tirar deste impasse a que chegamos. Porque vamos ter que construir outros caminhos. Nas ruas e nas redes. 

Quem perde com isso e que, portanto, vai resistir? Os que hoje se beneficiam do status quo: os partidos políticos tradicionais, sindicatos e todas estas estruturas hierárquicas construídas no milênio passado para controlar e domesticar "as massas".



E agora?

A questão é: o que fazer agora? O Brasil está diante de um impasse de difícil solução. Me parece que podemos extrair algumas lições sobre o dia 13 de março:

1) os petistas e seus fieis (não são mais militantes, são fieis) vão continuar cegos e surdos ao clamor popular. Pare eles quem foi à rua ontem não é povo... Toda a energia que lhes resta daqui para frente será para se manterem no poder a qualquer custo. Literalmente. Nos próximos meses o país estará entregue à própria sorte. Inflação, desemprego, recessão, déficit público... nada disso mais importa para eles. O negócio é defender lula e seu governo.

2) o sistema político brasileiro está falido. Se nem o PSDB tem credibilidade para falar para a multidão imaginem um governo liderado pelo PMDB/Temer! Conseguirá governar? Nem com o PT indo pra oposição e levando junto sua enorme rejeição. E ainda tem os processos no STF contra seus principais dirigentes. Um governo do PMDB vai ser extremamente instável e com vida curta.

Novas eleições em 2016!

Me parece que o melhor caminho para a saída desta crise seria novas eleições. É a maneira mais democrática de sair do impasse, com uma negociação com respaldo popular. Só um novo governo com legitimidade poderá fazer as mudanças e tomar as medidas que o país precisa.

O problema é: quem vai querer convocar eleições agora em 2016? Os partidos que são maioria no Congresso (PT, PSDB e PMDB) têm certeza que vão perder as eleições. Para eles o que interessa é uma saída por cima, via negociação e conchavos no Congresso. Sem a participação popular. Sem povo na rua... Não iriam convocar eleições para se suicidarem.

Os próximos meses serão tensos. Podemos ficar esperando sentado a solução cair do céu. Ou as pessoas sinceramente comprometidas com o futuro do Brasil podem se unir, por cima dos partidos políticos, para construir uma alternativa. 
Uma utopia? Talvez. Mas sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto é realidade...

Eu topo. Quem mais?

terça-feira, 1 de março de 2016

Economia do conhecimento ? by Dave Snowden

Traduzo aqui um interessante artigo de Dave Snowden, uma das referências em gestão do conhecimento (clique aqui para ver o artigo original). A tradução é livre e agradeço quem quiser melhorá-la.


"Eu prometi resumir a minha contribuição para o evento "Kuwait na economia do conhecimento". O assunto tem sido contornado ao um longo tempo, mas é de suma importância para países produtores de petróleo como o Kuwait. A queda dos preços do petróleo e o risco de, no longo prazo, os combustíveis de carbono perderem importância significa que há uma necessidade de diversificar. Como vários oradores assinalaram o petróleo não é uma maldição, ele deveria ser uma vantagem. Uma pessoa fez referências a Singapura, que não tem petróleo nem nenhum outro recurso natural. O argumento era de que essa ausência forçou o país a ter um foco e energias diferentes. Não esstou certo sobre isso. Singapura é um porto natural e eles foram capazes de tornar-se um centro para o comércio que foi além da mera localização física. Mostraram ser um local seguro para se fazer comércio na região. 
Então deixe-me resumir o que eu disse como uma série de pontos de destaque:
  1. A maioria das pessoas no evento estavam falando de uma economia da informação e não de uma economia do conhecimento; mais restrito ainda, eles falaram sobre informações digitais.
  2. Tornar as informações livres e disponíveis é um fator crítico hoje para um estado ou uma cidade. Os dados abertos permitem um rápido crescimento de serviços utilizando as informações e geralmente é uma coisa boa;
  3. Nenhum país (ou empresa) teve sucesso copiando uma história de sucesso anterior. Eles aprendem com elas, mas devem criar algo único em seguida, adaptada ao seu contexto. Não há receitas aqui e expressões como "melhores práticas" deveriam ser abolidas. A oportunidade, durante um período de mudanças como o que vivemos, é ser o pequeno que estabiliza uma nova situação e, assim, consegue encontrar o sucesso de maneiras inesperadas. Eu escrevi anteriormente sobre a teoria do predador dominante (onde ele fala das dificuldades crescentes das grandes corporações de lidar com este ambiente de grandes mudanças).
  4. Em um sistema complexo só conseguimos ter escala através da decomposição e recombinação contínuas, e não por imitação ou agregação. Eu escrevi uma série de posts sobre esta questão da escala, mas precisamos estudar muito este assunto pois esta é uma das questões-chave na criação de uma economia do conhecimento.
  5. Ambos, neo-liberalismo (caos) e planejamento estatal (ordem), falharam. Precisamos de uma nova forma de pensar para lidar com a complexidade e com o aumento da pressão sobre os recursos naturais. Isso significa um entrelaçamento das PME (pequenas e médias empresas) com o governo e um novo modelo de governança. As grandes empresas são tão burocráticas quanto o governo com menos responsabilidades e transparência. Terceirizar o trabalho tanto delas quanto do governo é quase sempre uma má idéia. No entanto usando redes menores ou empresas ágeis dentro de um ambiente articulado e integrado representa uma maneira melhor de lidar com as coisas. Esta articulação em rede é também mais eficiente para lidar com as consequências inesperadas que sempre ocorrem quando lidamos com um problemas complexo.
  6. Precisamos pensar sobre uma cultura mais provocativa (nudging culture) e menos matemática ou engenheira, onde estimulamos as pessoas a partir de objetivos mais idealistas. Deveríamos aprender a gerenciar o potencial evolutivo do presente, parando de definir planos quinquenais (Stalin foi a pessoa que popularizou este tipo de planejamento, não foi?), com KPIs (Key Performance Indicators - Indicadores chave de performance) baseados nas pessoas, independentemente das consequências. Também significa que você perderá algumas oportunidades que se apresentarão no futuro próximo (e não no plano), mas que não poderiam ter sido previstas.
  7. Há uma necessidade de um grupo de elite para estudar a experiência de Singapura. A educação deles é meritocrática na entrada, e elitista em termos de financiamento. As novas elites vão ser generalistas capazes de integrar o conhecimento de humanas com ciência e tecnologia. Não serão tecnocratas. O Kuwait tem uma tremenda oportunidade para construir uma tradição árabe de conhecimento ao invés de seguir uma abordagem tecnocrática, que domina o oeste. Tenho muitas ideias sobre como fazer isso no curto e médio prazo e vou postar mais sobre isso no futuro.
  8. As populações são rede de sensores e não recepientes das benesses dos poderosos. O trabalho que estamos fazendo com SenseMaker® permite que um país se envolva em tempo real com os seus cidadãos sem a mediação de sondagens e pesquisas de mercado. Isto permite um melhor engajamento das pessoas, uma melhor e mais dinâmica realocação de recursos e também uma democratização das políticas públicas.
  9. A motivação intrínseca de cada pessoa é o aspecto chave para a inovação. Esta mania que temos de definir KPIs (todas as pesquisas científicas comprovam isto) destróem esta motivação.
  10. A inovação tem de ser repensada para aproveitar as capacidades existentes e ter um novo propósito: precisamos desenvolver mais a partir do que existe e tentar antecipar menos as necessidades das pessoas".