"Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos". (Nélson Rodrigues)
Pela sexta vez consecutiva o Brasil caiu no ranking de competitividade mundial. Estamos na 57a posição, atrás de Argentina, Colômbia, Peru, México e Qatar e à frente apenas de Venezuela, Mongólia, Ucrânia e Croácia, países que viveram ou vivem situações de conflitos intensos.
Este resultado não é fruto do acaso ou de improvisos, é o resultado de anos de uma política equivocada de ciência, tecnologia e inovação. Em um artigo que escrevi junto com meu amigo André Pereira Neto (clique aqui para ver a íntegra do artigo) procuramos apontar as razões deste nosso atraso no desenvolvimento tecnológico e combater alguns mitos que nos impedem de atacar as causas de nosso atraso.
O primeiro mito: falta dinheiro
Não é verdade que faltem recursos para a ciência, tecnologia e inovação (CTI). Investimos apenas 1,3% do PIB em CTI, que é bem menos que a Coréia, Alemanha ou França, mas é mais ou equivalente ao que investem a China e o México. A diferença é que o retorno deste investimento para a sociedade é muito maior nestes países. Não temos prioridades e pulverizamos os recursos em mais de 30 áreas. Quem tem mais de 30 prioridades não tem nenhuma e o resultado é que ao invés de sermos muitos bons em algumas áreas, somos ruins em todas...
Segundo mito: Temos poucos doutores
A segunda falácia que repetimos sem analisarmos os números é de que formamos poucos doutores. O Brasil está formando cerca de 10.000 doutores por ano. É menos do que outros países com populações menores que a nossa, mas é muito mais que o nosso modelo de desenvolvimento consegue absorver. A maioria destes pesquisadores que obtém seu título de doutor vai trabalhar em áreas que não tem nada a ver com a pesquisa. O resultado é frustração pessoal e desperdício de recursos. Precisaríamos ter um outro modelo de desenvolvimento econômico, que valorizasse a inovação, e um outro enfoque na priorização da formação destes doutores, hoje, na sua maioria, da área de humanas.
Precisamos é mudar de rumo...
Não faltam recursos financeiros nem humanos. O que falta é uma estratégia adequada. Existe há alguns anos uma verdadeira ditadura do artigo indexado em revistas internacionais. Publicamos como nunca, em revistas que ninguém lê, porque o ÚNICO critério de avaliação de nossos pesquisadores é a publicação de artigos em revistas internacionais. Claro que este deve ser UM dos critérios, mas em nenhum lugar do mundo este é o único, e nem mesmo é o principal. Pelo simples fato de que hoje a função da publicação - que é de divulgar as ideias - é melhor executada pelas redes sociais. De fato, atribuir às revistas científicas, caras e pouco acessíveis, o papel principal na divulgação científica é um resquício do pensamento academicista dos séculos XIX e XX que não mais se aplicam no século XX. Continuarmos apostando neste dogma do artigo como único critério de avaliação é um desastre.
Esta persistência em políticas equivocadas de CTI está fazendo o Brasil recuar, de forma consistente e sistemática, nos ranking de competitividade e até mesmo nos de produção científica de qualidade. Publicamos muitos artigos, mas que são repetitivos e sem grande interesse para a comunidade internacional. O que importa é publicar muitos artigos, mesmo que eles sejam irrelevantes. Claro, com as raras exceções de sempre...
Precisamos de uma outra política, que avalie a produção científica a partir de critérios mais amplos e diversificados, que estreite os laços entre os centros de pesquisa e as empresas, e que valorize a produção de um conhecimento sintonizado com os problemas e demandas da sociedade.
Enquanto isto não acontecer, vamos continuar a assistir a fuga dos cérebros para o exterior, a ver alguns abnegados brincando de fazer ciência e ao final, o país continuar caindo nos ranking de competitividade econômica e desenvolvimento social.
Como nos lembra o grande Nélson Rodrigues, nosso subdesenvolvimento não acontece por acaso. É o resultado da nossa persistência no erro.
Está mais do que na hora de mudar nosso rumo.