domingo, 15 de janeiro de 2017

A náusea e as flores

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
...
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

A flor e a náusea - Carlos Drummond de Andrade

A vida já me ensinou que ninguém muda por mudar. Todo processo de mudança é doloroso, envolve perdas e um passo rumo ao desconhecido. As pessoas e os países só mudam quando não tem alternativas. Estão enojadas e/ou entediadas e já entenderam que é mudar ou morrer... Aí nosso instinto de sobrevivência se sobrepõe ao medo da mudança e nós resolvemos fazer algo para mudar nossas vidas. 

O país anda triste e sem esperança. Nestas horas convém olhar para os artistas. Alguns deles têm o dom de ver antes o novo que está vindo. 

Este mês assisti ao filme Elis e ao espetáculo Trá-lá-lá, que conta a vida e canta as músicas de Lamartine Babo. Além do filme e da peça serem ótimas, me chamaram a atenção dois artistas extraordinários: Andréia Horta, que interpretou Elis e Daniel Haidar, que atua na peça.

O trabalho de Andréia é tão bom que ela ganhou o Kikito de Ouro como melhor atriz por seu desempenho no filme, mas quem mais me surpreendeu foi Daniel. Ele tem apenas 17 anos e é um ator completo: interpreta magnificamente (com leveza e uma tremenda presença e domínio do palco), canta, toca, dança e sapateia com maestria! Não me lembro de nenhum ator brasileiro que reúna todas estas qualidades. E ele tem apenas 17 anos... 

Não deixem de ir ver o filme e a peça, mas sobretudo guardem o nome destes dois artistas extraordinários: Andréia Horta e Daniel Haidar. No meio deste momento triste por que passamos eles são flores que furaram o asfalto, o tédio e a mesmice para anunciar que a arte brasileira está viva e criando novos talentos.






Façam completo silêncio. 
Paralisem os negócios,
Desliguem seus celulares e respirem fundo:
garanto que duas flores nasceram.







Corram para assisti-los!

Garanto que vocês não vão se arrepender...


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