"Mas é você que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem"...
(Belchior)
"Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais..."
(Alceu Valença)
Quando tinha uns quinze anos, cheguei em casa joguei meu tênis
no armário, bati a porta e o armário desabou estrondosamente! Todos correram
para ver o que tinha acontecido e tudo o que consegui balbuciar foi: "não
fui eu".
Minha mãe foi olhar e me perguntou se eu não tinha notado umas
"poeirinhas" na roupa. Depois que ela falou, de fato, me lembrei de
ter visto várias vezes minha roupa desta forma. "É cupim", ela
esclareceu. Nos registros históricos a data em que o armário desabou foi esta,
mas os cupins já estavam atuando há meses. Eu é que não tinha sido capaz de
perceber os sinais...
O Brasil e o mundo estão mudando e os sinais são, a cada dia,
mais visíveis. Empresas que não existiam no século passado, como Google,
Facebook, Youtube, Amazon já se tornaram as empresas mais ricas e poderosas do
século XXI, deixando as 7 grandes do petróleo ou da indústria automotiva para
trás. A maior enciclopédia do mundo faliu e todos nós usamos a Wikipedia, que é
feita de forma colaborativa. Desta mesma forma nós estamos financiando projetos
e iniciativas culturais (crowdfunding)
e fizemos o sequenciamento do genoma humano, que está revolucionando a
medicina.
Milhões foram às ruas em junho de 2013 sem que ninguém soubesse
de onde veio esta gente toda. E as manifestações foram sem palanques, partidos
ou gurus. Uma mobilização feita de baixo para cima que deixou claro que
sindicatos e partidos de ex-querda não têm mais o monopólio da mobilização
popular. Muito pelo contrário...
Os sinais são evidentes, mas muita gente ainda prefere olhar
para trás. Sonham com a volta aos séculos XIX e XX, ao mundo industrial, ao
conflito entre operários e burguesia, esquecendo-se que os operários estão
acabando e a burguesia agora é outra. Outros só conseguem ver o que está
desmoronando. Só conseguem ver que o armário caiu...
Poucos estão prestando atenção ao novo que está surgindo. Os
cupins estão corroendo as estruturas seculares que criamos, mas são cupins de
um novo tipo: eles também estão construindo a nova estrutura que vai nos levar
ao século XXI: as redes complexas.
Empresas, partidos, governos.... muitos armários que pareciam
fortes e indestrutíveis ainda vão cair. Precisamos estar atentos ao novo que
surge.
O nosso presente está prenhe de futuro...