segunda-feira, 29 de maio de 2017

Quem quer reviver a sua juventude não constrói nada de novo. E fica velho...

Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”. (Heráclito)

Minha adolescência no Colégio São Vicente de Paulo foi inesquecível. Eram os anos 70, de ditadura e muita repressão do lado de fora, mas de intensa atividade cultural no colégio. Tínhamos um grêmio, assistíamos filmes proibidos, discutíamos como construir a democracia no Brasil, namorávamos, nos divertíamos. Foram anos dourados... Já adulto, meu sonho era voltar ao colégio para dar aulas lá. Fui conversar com o Pe. Almeida, que era o diretor quando eu fui estudante. Falei do meu sonho e ele, sabiamente, me disse: “Marcos, o seu São Vicente não existe mais. E você querer reencontrar você e seus colegas nos alunos atuais só vai aumentar a sua nostalgia e fazer de você um mau professor. Não se vive duas vezes. Viva o seu tempo”...

Ontem teve uma manifestação em Copacabana com a presença de Caetano, Mílton e artistas globais. Vendo a linha do tempo de alguns amigos que lá estiveram, identifiquei claramente o mesmo sentimento: todos disseram que ontem reviveram “seus melhores anos de juventude”. E todos têm o mesmo desejo: reviver a manifestação dos 100 mil e “barrar a reformas”, “derrubar o governo golpista”, “fortalecer os sindicatos”, “diretas já” ... Em resumo: querem voltar para a sua juventude perdida nos anos 60, 70, 80...

O Pe Almeida tinha razão. Ser jovem não é tentar viver hoje as mesmas experiências de quando você tinha 18 anos. Você não é mais o mesmo, o contexto e as pessoas à sua volta também não. Ser jovem é viver intensamente o SEU TEMPO.

A disputa hoje, no Brasil, é entre aqueles que querem a manutenção de um status quo e/ou a volta ao passado e aqueles que querem colocar o Brasil no século XXI.

As manifestações de junho de 2013, pelo impeachment e em defesa da Lava Jato e a própria operação Lava Jato deixaram muito claro que este modelo de República é insustentável. Está velho e sem condições de continuar. Temer, lula, Dilma, Aécio, Cunha, Renan, Sarney são só o passado tentando impedir o novo de eclodir.

E aqueles que já foram porta vozes da esperança e de futuro ficaram velhos. Não pela idade, mas pelas ideias. Hoje eles se limitam a cultivar a volta ao passado, aos que nos colocaram nesta situação. Como nos lembra o Claudio Manoel Dos Santosl, “Foram anos de investigação do maior escândalo de corrupção da história. Estatais implodidas, ladroagem hiperbólica, a maior massa de desempregados jamais vista, centenas de milhares de falências e, durante esse tempo todo, durante tudo isso, não ouvimos um trinado do Caetano, um corinho da ala PSOL do PROJAC, nenhuma mobilização dessa galera, nada de nada...”


Esta galera hoje virou saudosista. Eles e Temer querem barrar a Lava Jato para ela não pegar o seu líder messiânico. Estão prisioneiros da sua juventude perdida. Se recusam a viver o nosso tempo.

Uma pena. A história não costuma perdoar quem se aferra ao passado.

“A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue”...

2 comentários:

  1. Parabéns pela clareza de opinião. É mais fácil navegar na mesmice. Cadê a dialética dessa massa ? Sempre atrás de soluções fáceis.

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  2. Parabéns pelo seu comentário nota 1000

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